OS DIAS APÓS O AMANHÃ
Às vésperas de
mais uma eleição municipal, achamos propício o momento para refletirmos sobre
os resultados que estas escolhas poderão proporcionar para o município de Marabá
e claro, nossa ênfase para a Região do Rio Preto.
A Cidade Relicária
Graciosa amarga índices vergonhosos em termos de desenvolvimento humano, ostentando
IDHM 0,668, ocupando a 2.716ª posição, no universo de 5.565 municípios
brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), com rede de esgoto praticamente inexistente, sem abastecimento de água
em grande parte da cidade e ruas sem qualquer condição de tráfego.
Ao contrário
do que muitos pensam e propagam, vivemos em um município marcado pela pobreza
extrema, de fortes contrastes sociais, dividindo a paisagem a riqueza,
concentrada em um pequeno grupo e a miséria, distribuída sem piedade para a
grande massa. Os tais recursos naturais, a terra rica, em nada alteram a
realidade, aliás, é preciso entendermos que o recurso mais valioso na nova
ordem mundial trata-se da construção de conhecimento para domínio da ponteira
tecnológica, quem não produz tecnologia habita a periferia econômica,
prestando-se ao “trabalho braçal” do sistema produtivo mundial.
Pasmem,
segundo dados mais atuais do IBGE, o rendimento mediano mensal por pessoa na
zona urbana de Marabá e de R$ 375,00, ou seja, o cidadão da zona urbana tem
esse mísero valor para tocar sua vida durante um mês, são R$ 12,50 por dia, insuficiente
para custear a alimentação dentro dos padrões nutricionais mínimos.
Cenário mais
dramático observamos na zona rural, onde o rendimento mediano mensal por pessoa
é de R$ 178,33, média diária de R$ 5,94. Nesta realidade está nossa Santa Fé e
demais localidades rurais, adiciona-se a tais fatos, o isolamento dos precários
serviços públicos prestados pelo município, estado e governo federal, ofertados
basicamente no núcleo urbano. Sem saneamento básico, sem abastecimento de água
potável (agravada pela seca generalizada dos poços convencionais), sem serviços
básicos de saúde e educação precarizada.
A euforia é
grande neste momento, parece que dia 02 de outubro iremos às urnas escolhermos
os “salvadores da pátria”, que tudo será diferente a partir de primeiro de
janeiro de 2017, que a velha política será debelada.
Mas é difícil
acreditar que mudanças significativas ocorrerão, afinal, o roteiro continua o
mesmo: os velhos políticos mantêm o favoritismo; o velho jeito de fazer
campanhas, no qual os postulantes aos cargos apresentam uma lista de promessas
sem qualquer informação técnica que justifique suas realizações; as promessas
de benefícios pessoais e um forte odor de caixa 2, oriundo provavelmente de uma
discrepância entre os valores declarados e as ações desenvolvidas nas
campanhas.
A alternância e a oposição são fenômenos essenciais da democracia, mas preferimos
enxergar nossa “democracia” à luz de alguns escritos do filósofo político e do
direito Norberto Bobbio. Assim, resumimos a democracia uma forma de alternância
de governos sem o uso da violência, um mecanismo de legitimação de poder, de
alternância das elites no poder e arrefecimento das massas sociais, vivendo o
eterno sonho de transformações utópicas, renovado a cada eleição. Com efeito, a
democracia é um mecanismo de legitimação das oligarquias.
Quanto à
oposição, via de regra se materializará em um grupo minoritário no legislativo,
a perene prática dos “governos de coalizão” se encarregará desta tarefa, a
“compra de apoio político” é consagrado e legal no sistema político brasileiro,
é permitido conduzir políticos sem o necessário conhecimento técnico para o
comando de secretarias municipais, por exemplo, em troca do apoio do seu
partido.
De tudo isso,
é difícil acreditar em mudanças positivas, que de fato nos eleve a patamares
razoáveis de qualidade de vida. A esmagadora maioria da população continua à
margem de informações e mecanismos que lhes permitam construir o conhecimento
que possibilite enxergar e discutir temas relevantes de seu cotidiano, formas
de governo e organizações sociais. E os meios dependem em muito da ação do
estado, sobretudo em políticas educacionais, ao que parece, proporcionar esta
autonomia não é algo interessante ao sistema, dada a crescente precarização do
setor, o ciclo se manterá, quebra-lo poderá comprometer a sustentabilidade da
“democracia”.
REFERÊNCIAS:
CARVALHO NETO, Tarcísio Vieira. O princípio da alternância no regime
Democrático. Disponível em:<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496622/000967063.pdf?sequence=1>.
Acessado em 27 set. 2016.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA – IBGE. Cidades@. Disponível
em:< http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=150420&search=para|maraba>.
Acessado em 25 set. 2016.
VITULLOI, Gabriel; SCAVO, Davide.
O liberalismo e a definição bobbiana de
democracia: elementos para uma análise crítica. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-33522014000100004>.
Acessado em 26 set. 2016.
WACHHOLZ, Roberta Negrão Costa. Uma análise de "O futuro da
democracia" de Norberto Bobbio. Acessado em:<http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,uma-analise-de-o-futuro-da-democracia-de-norberto-bobbio,51692.html>.
Acessado em 26 set. 2016.
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